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Motoqueiro Selvagem, parte 2!

Dia 29 de fevereiro marca o limite entre planos e ações. Faltam 15 minutos para as cinco horas da manhã e o celular desperta. 

Um rock da banda Wolloggabbas de Goiás o refrão é algo do gênero: “Cala boca e me deixa. Daqui 50 anos vou estar em uma varanda esperando a morte vir, feito você! E se você não quer rock n’ roll... meu bem não posso fazer nada! Estou bem, eu vivo é pra tocar rock n’ roll”...

 Na cabeça o peso da noite onde mal pude pregar os olhos de ansiedade. Muitas coisas passam por ela... Como reagirei aos reflexos na estrada, o que fazer se algo acontecer, pessoas que ficarão pra traz, horas que passarei rodando somente eu e Deus nessas estradas que nunca pensei em percorrer...

Ainda é noite quando escovo os dentes e tomo um café que minha mãe preparou com lágrimas nos olhos. Ela disfarça, mas eu sinto que a despedida abala muito as estruturas dessa maravilhosa mulher! 

Eu diria que não é necessário o pesar ou a dor de me ver partir assim. Todavia nem eu sei o que deveria dizer em momentos assim. Prefiro o silêncio e o doce ronrronar da madrugada fresca de Goiás. As malas já estão na moto arrumadas algumas horas antes da noite longa de descanso.

O momento chega... O abraço é dado e o que fica nem sei... As ruas que desci incontáveis vezes a pé, de bicicleta e de moto vai ficando para traz. O retrovisor nem está ajeitado... Parece que ele quer esconder essa visão dos meus olhos. 

Só o que existe agora é uma estrada sem fim, um horizonte que irá aparecer e desaparecer para novas paisagens surgirem. 


O vento úmido e a aceleração constante... Esses dias que jamais sairão da memória estará comigo para sempre. Lembrando-me de quem sou e de quem serei! Onde vivi bons dias e onde construirei novas pontes e caminhos com meu suor e sangue.














Na estrada o sentimento é único. Para aqueles que nunca tiveram essa sensação, meu pesar. Pois todos deveriam sentir essa adrenalina. Algumas horas de viagem e bons quilômetros rodados vi de tudo pelo caminho. Algumas surpresas boas e outras nem tanto... Aprendi muito mais do que deveria com esse percurso.

Contrariando muitas previsões e muitos conselhos... Meu corpo não está dolorido, não tenho câimbras, nem dormências... Cansado todos ficamos, mas os músculos estão agradecidos pela emoção de tal feito. 

Como o alpinista que sente o êxtase chegando ao pico de uma escalada...me sinto ao completar uma curva que via a quilômetros atrás... A velocidade podia ser maior, mas os 120 km/h que a minha Titan faz são suficientes para acelerar o batimento cardíaco, nas retas sem fim dessas rodovias...

















O que me contraria são pequenas coisas que surgem nessas horas de viagem... Como o buraco que aparece sem aviso prévio; ou o caminhoneiro imprudente que força ultrapassagens perigosas em lugares inadequados. 

Até loucos “pranchados” passam por você como se a velocidade e potencia fosse prova de macheza! O coração do motoqueiro não é medido em cilindradas, nem em km/h... O sentimento mais libertador está em curtir a viagem, sem compromissos com o mundo. Sem a loucura do trânsito, sem a hora marcada da folha de ponto.

 A mais bela loucura do motoqueiro está em deitar sob a sombra de uma grande arvore beira estrada. Tomar um café curtindo uma paisagem inigualável. Conhecer pessoas que só se vêem em estradas. 

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